domingo, 18 de março de 2012

Doméstica etíope espancada no Líbano se suicida após vídeo do abuso passar na TV

O caso revoltou libaneses e etíopes e reacendeu debate sobre o tratamento dado a domésticas no país
Um vídeo que mostra um grupo de libaneses espancando uma doméstica etíope provocou condenação dos governos dos dois países e levantou mais uma vez o debate sobre o tratamento dado a trabalhadoras estrangeiras no Líbano. A doméstica, Alem Dechasa, se suicidou nesta quarta-feira (14/03), alguns dias após o material ser transmitido pelo LBCI, canal de TV local, e cair na internet - foram mais de 84 mil acessos no Youtube.
 Nas imagens, captadas com uma câmera de celular, Dechasa e os agressores estão próximos à Embaixada da Etiópia em Beirute. Enquanto é arrastada pelos homens, um deles seu patrão, Ali Mahfouz, a doméstica implora para ser deixada em paz. Eles tentam colocá-la dentro de um carro, contra sua vontade. Mahfouz bate na mulher, puxando seus cabelos.

O vídeo foi transmitido na semana passada na TV e causou revolta entre libaneses e etíopes. Comunidades no Facebook e em outras redes sociais foram inundadas com mensagens de repúdio a Mahfouz, algumas delas com teor anti-árabe. Autoridades dos dois países anunciaram uma investigação.
No entanto, pouco tempo após ser hospitalizada no hospital psiquiátrico la Croix, na capital libanesa, Dechasa cometeu suicídio usando os lençóis da cama para se enforcar. De acordo com o cônsul etíope Asaminew Debelie Bonssa, entrevistado pelo jornal libanês The Daily Star, Dechasa parecia bem no sábado (10/03), quando ele a visitou, e que fazia planos para quando voltasse para a Etiópia.
Abusos
A história de Dechasa se junta a outros relatos de abusos cometidos contra trabalhadoras estrangeiras no país. Desde 1973, o Líbano vem "importando" domésticas estrangeiras que não contam com a proteção de nenhuma lei libanesa: o código do trabalho não se aplica a elas. Nesse panorama de ilegalidade, muitas famílias condicionam as domésticas a regimes de trabalho desumanos e, na maioria dos casos, aliados a abusos físicos e sexuais. 
Segundo as associações de direitos humanos, a situação só piora. São centenas de filipinas, etíopes, togolesas e cingalesas, entre outras nacionalidades, que relatam sofrer espancamentos, abusos, e privação de sono e comida.
De acordo com pesquisa da associação Caritas feita em 2007 com patrões, mais de 91% confiscaram o passaporte da empregada, 71% não a deixam sair sozinha, mais de 31% reconhecem maltratá-la, 33% limitam as suas refeições, 73% vigiam os seus relacionamentos e 34% a punem como se ela fosse uma criança.
O suicídio acaba sendo o destino de muitas delas. Nos últimos quatro meses, quatro mulheres tiraram suas vidas, de acordo com o Daily Star. 

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