terça-feira, 3 de abril de 2012

Anastasia troca cúpula da Segurança Pública mineira

Efeito Cachoeira.
Anastasia ¨esquenta as costas¨.
Sem muito alarde, o governador de Minas, Antonio Anastasia (PSDB), trocou recentemente toda a cúpula da segurança pública de seu governo, incluindo o secretário e os chefes das polícias civil e militar. Os motivos aparentes seriam a disparada nos índices de criminalidade em Minas durante 2011, além do desgaste político, após denúncias de manipulação nas estatísticas de crimes no estado, além de falta de comando sobre as duas polícias (civil e militar). Tudo isso tem fundamento.
O memorando 5008.2/2012, assinado pela cúpula da Polícia Militar, proibia os comandantes de batalhões de repassarem índices de criminalidade à imprensa (!). Além disso, surgiram denúncias de que boletins de ocorrência estariam sendo "maquiados" pela polícia, para “melhorar” as estatísticas.
Após 13 meses sonegando informação ao cidadão mineiro sobre a quantas anda a criminalidade por lá, os maus números foram divulgados no final de fevereiro e mostraram um aumento de mais de 10% no total de crimes violentos em 2011.
O péssimo ambiente entre as polícias civil e militar também é evidente. Em vez do necessário trabalho colaborativo, o clima de disputa por poder transparece: uma corporação mal estaria falando com a outra, fazendo operações sem trocarem informações, cada uma por si. O que levou a verdadeiros confrontos nas ruas, com policiais apontando armas e dando voz de prisão uns aos outros.
Mas pode haver uma “cachoeira” de outras motivações para a troca de comando na cúpula da Segurança Pública em Minas, uma vez que o próprio corte de verbas imposto por Anastasia em 2011 poderia explicar, em parte, a escalada da violência. E as outras motivações para o que está acontecendo no estado podem vir das Operações Furacão e Monte Carlo, ambas da Polícia Federal.
Recentemente a cúpula do jogo do bicho do Rio de Janeiro foi condenada a prisão, como desdobramento da Operação Furacão da Polícia Federal. No dia 29 de fevereiro, a Operação Monte Carlo levou à prisão o explorador de jogos ilegais Carlinhos Cachoeira, revelando uma rede criminosa infiltrada no governo Goiás, e ao que tudo indica com base sólida numa banca de parlamentares no Congresso, encabeçada pelo senador Demóstenes Torres (DEM/GO).
No dia 4 de fevereiro, o vereador de Belo Horizonte, Cabo Júlio (PMDB), escrevia em seu blog: “Além dessa narrativa da jogatina em Minas não ser muito diferente daquela desbaratada em Goiás, o próprio Carlinhos Cachoeira já se envolveu na exploração de jogos eletrônicos com autorização do governo de Minas em 2000 (governo Itamar Franco), por meio da empresa Jogobrás do Brasil Ltda. Foi uma versão eletrônica do jogo de bicho, licenciado pela estatal Loteria de Minas, chamado Sorteca".
Minas viveu seu escândalo na época. Gente com interesses contrariados, soltaram gravações com donos de máquinas de caça-níqueis oferecendo R$ 6 milhões a Márcio Miranda Gonçalves, genro e homem de confiança do procurador-geral de Justiça Márcio Decat, para não reprimi-los. O escândalo abalou o Ministério Público Estadual, derrubou o procurador-geral e causou a exoneração de toda a cúpula da Loteria Mineira à época, incluindo o diretor Mário Márcio Magalhães, que depois veio a ter negócios com Cachoeira em Goiás.
Com o conjunto de fatores acima, a esperteza política recomendaria a Anastasia procurar se prevenir do risco de engrossar o noticiário sobre as ligações de Cachoeira com políticos, trocando a cúpula da Secretaria de Segurança por caras novas e evitando se ver na desconfortável situação em que se encontra seu colega tucano de Goiás, Marconi Perillo, surpreendido pela Operação Monte Carlo da Polícia Federal.
Deputado tucano aparelhava Segurança Pública
No dia 19 de março a cabeça do deputado estadual Lafayette Andrada (PSDB) rolou da Secretaria de Defesa Social (é assim que os tucanos mineiros chamam a Secretaria de Segurança Pública), substituído pelo procurador de Justiça Rômulo de Carvalho Ferraz.
Curioso notar que essa nomeação anterior de um deputado estadual, sem biografia ligada a segurança pública, caracteriza o que o senador Aécio Neves (PSDB) chama de aparelhamento político quando é feito por adversários. Isso comprova o quanto o senador às vezes soa mais falso que uma nota de R$ 3.
Lafayette Andrada, além de deputado estadual, é filho do deputado federal Bonifácio Andrada (ex-UDN, ex-ARENA, ex-PDS, ex-PTB e atual PSDB) – ambos são membros de uma família oligárquica que está na política há 190 anos.
Se não faltavam motivos para a queda do secretário, a gota d'água, ou melhor, a “cachoeira” d'água, pode ter sido essa denúncia abaixo, replicada numa série de sites de notícias e blogues pelo país, a poucos dias antes da exoneração do ex-secretário. Confira:
Lafayette Andrada é acusado de fraudar sociedade de ensino
"O então secretário de Estado de Defesa Social de Minas Gerais, Lafayette Andrada (PSDB), é réu em dois processos movidos pela pedagoga Diva Batista de Moura e Silva, 61, nos últimos oito anos. As ações se referem a supostas irregularidades na empresa Educare, que tinha ambos como sócios e foi criada em 2000, em Juiz de Fora, na Zona da Mata, para oferecer cursos sequenciais em parceria com a Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac), instituição que tem como reitor o pai de Lafayette, o deputado federal Bonifácio Andrada (também do PSDB)."
Muita água ainda vai rolar...

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