sexta-feira, 15 de julho de 2011

O dia de Anastasia em Montes Claros

Governador fez o que prometeu. Curto e grosso, ele assinou convênios, falou o que o povo queria ouvir, visitou os pontos seguindo a programação. Enfim, muita coisa, mas muito pouco...

Gustavo de Castro - Revista Tempo
Quem acompanhou pela tv, jornais, internet a trajetória do governador Antônio Anastasia em visita a Montes Claros, mais precisamente no evento “Dia do Governo de Minas nos Gerais”, viu a maior autoridade do estado, juntamente com o secretariado e prefeitos da região assinar projetos de lei que comprometem criar condições mais vantajosas para a região. O objetivo do governador é tornar o Norte de Minas Gerais mais digno e mais rico, equiparando, segundo ele, com as outras regiões do estado: “Minas Gerais só será completa quando tiver todas as regiões em um mesmo patamar socioeconômico”.
Mas, como nem tudo são flores, o grande evento teve alguns acontecimentos imprevisíveis que nem todo mundo ficou sabendo. 
Oportunidade é como um cavalo arriado
E quem sabe muito bem aproveitar uma boa oportunidade, ou se jogar em cima de um mangalarga para correr na frente dos outros é o prefeito Luis Tadeu Leite. Esperto, ele aproveitou a presença do governador e não deixou de pedir mais por Montes Claros: “Pedimos que continue valorizando nosso município com a transferência de outras grandes empresas, assim como a extração de minério, do gás e outras riquezas que possuímos”. Com as câmeras e holofotes todos voltados para o chefe do executivo, Tadeu Leite também pediu mais apoio, mais investimento, atenção e, de quebra, deu uma pequena bajulada no ilustre. “Sabemos que a fila dos que pedem é sempre muito maior do que a fila dos que agradecem. Mas eu estou nessa fila, que agradece e por isso, meu muito obrigado pelos trabalhos”, finaliza. 
Cuidado: Cão bravo (que só late)
Os discursos, como previsto, eram muito aplaudidos por todos, desde vereadores, prefeitos, deputados, secretários, presidentes de associações, imprensa, empresários entre outros que assistiam o solene pronunciamento cheio de elogios e promessas ao sertão mineiro.
Do lado de fora, a segurança era impecável. Policiais fortemente armados tomaram conta de dois quarteirões do bairro Ibituruna, contando com o reforço de seguranças especiais trazidos diretamente da capital. Parecia mais uma aparição pública do papa ou do presidente norte-americano em tempos de guerra contra países asiáticos.
Para entrar no local era só com o nome na lista, identificação profissional, credenciamento, fila organizada, onde até nomes importantes de autoridades montes-clarenses passavam pelo rigoroso “baculejo” feito pelo segurança da portaria.
No entanto, um cidadão passou facilmente por todo esquema montado, treinado e preparado. Ele foi caminhando até o auditório onde ocorria a reunião, subiu no palanque enquanto o governador fazia o uso da palavra e começou berrar: “Queremos política justa, dignidade para a classe dos professores. Não dê as costas, Anastasia. Queremos salários mais justos...”. O manifestante foi retirado pelo Cel. Martins, que estava na mesa de honra representando a Polícia Militar. Só depois é que a eficiente equipe de segurança removeu o sujeito do local sob vaia do auditório. Em seguida, Anastasia deu continuidade ao discurso. 
Minas Gerais: a pior educação do país
O protestante que invadiu o momento ilustre é professor, assim como o governante. Mas sem cargo político e, muito menos, poder autoritário. O nome dele é Paulo Fernandes, professor da rede estadual de educação. Segundo Fernandes e mais dezenas de outros protestantes, o governador não vem dando a atenção devida à classe de professores. “Tudo que queremos é o piso salarial determinado pelo governo federal de acordo com a lei 11.738”, reclama o professor. Esta lei padroniza o piso salarial do professores em R$ 1.597,87, para 24 horas semanais. Sendo que, em Minas, os professores chegam a receber míseros R$ 369,89 por mês. O salário mais baixo do país. Com isso, a greve que iniciou-se no dia 08 de junho, segue firme e sem data marcada para terminar. 
Coletiva sem imprensa
Depois de Antonio Anastasia anunciar projetos importantes que vão aquecer a indústria da região, o governador encerrou a fala e desceu correndo as escadas, deixando as demais autoridades em cima do palco onde estava. A reunião continuaria. Era a vez do presidente da Alpagartas, Márcio Hudson, falar sobre a instalação da fábrica da marca Havaiannas em Montes Claros, onde vai gerar mais de dois mil empregos diretos.
Mas não tinha muita gente pra assisti-lo no auditório. Quando o governador saiu, rumo à sala de entrevista coletiva com a imprensa, praticamente todo mundo foi atrás. Era prefeito, vereador, secretário, empresário, puxa-saco, tudo seguindo os mesmo passos de Antônio Anastasia. Resultado disso: A sala da coletiva ficou superlotada, sem lugar para a imprensa. É que a competente equipe de segurança belo-horizontina barrou os jornalistas depois de liberar a passagem de manifestante. E sabe-se lá o que aconteceu nessa coletiva de imprensa sem a presença da imprensa. 
Velocista e driblador
Em seguida, novamente, o governador saiu rapidinho, a francesa, e foi direto à Avenida dos Militares. Morrendo de pressa, Anastasia fez tudo correndo como sempre: Participou da entrega de 50 novas viaturas à P.M de Montes Claros, falou sobre as drogas como a maior vilã no assunto violência e seguiu diretamente para o Colégio Tiradentes, onde apresentou o mesmo discurso de mais cedo, até parecia decorado. Também começou a assistir a apresentação do grupo de dança cultural, Banzé, que estava impecável para a apresentação. O Banzé preparou todo o figurino, coreografia, e, como um passe de mágica, no meio da apresentação, quando as atenções eram todas voltadas aos artistas... PUF, desapareceu de novo o homem. Quando a ausência de Anastasia foi notada, ele já estava dentro dos carrões pretos, blindados, que o aguardavam do lado de fora do colégio.
Sem ao menos mandar um tchauzinho, o governador já estava longe, como se fosse uma celebridade internacional fugindo dos fãs e paparazzis.
Uma pena, ele devia estar passando mal ou com muita pressa mesmo, porque em época de campanha eleitoral ele era tão simpático, atencioso. O que será que aconteceu daquele tempo pra cá?

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