O pós-carnaval
na Câmara dos Deputados vai começar com a base governista de Michel Temer sendo
colocada à prova. Isso porque o Palácio do Planalto espera que o Projeto de Lei
nº 4.302/1998 seja votado na próxima semana. O texto regulamenta a contratação de
mão de obra terceirizada sem restrições, incluindo na administração pública. Na
opinião de integrantes do governo, a votação dará início à agenda de retomada
do crescimento econômico em 2017. Um cronograma foi fechado entre o presidente
da Câmara, Rodrigo Maia, o ministro da Secretaria de Governo, Antonio
Imbassahy, e o presidente Temer. Como está em fase final de tramitação, se
aprovado, o projeto seguirá para sanção presidencial.
A proposta
é polêmica, mas tem maior apelo para o governo e a base aliada no Congresso.
Diferentemente do Projeto de Lei 4.330/04 - aprovado em 2015 na Câmara e que
também regulamenta a terceirização -, o PL 4.302/98 prevê a terceirização de
atividade-fim e no setor público. O projeto tem o apoio do governo porque
"enterraria" o 4.330/04, que foi para o Senado Federal como PLC
30/15. O relator da matéria na Casa, senador Paulo Paim (PT-RS), ainda vai
apresentar um relatório que substituirá o texto aprovado na Câmara, excluindo a
possibilidade de terceirização em atividade-fim.
Para o deputado
Laércio Oliveira (SD-SE), relator do projeto de 1998, a proposta em tramitação
no Senado foi "totalmente descaracterizada". "Perdeu sua função
principal de promover um ambiente de emprego com segurança jurídica para quem
contrata, presta serviços e para o trabalhador", avaliou. "Foram
tantas alterações que não agrada mais ninguém." Ainda não está definido o
dia exato em que o PL 4.302/98 será votado na Câmara. E quem pretende ganhar
com isso são as centrais sindicais. Na manhã da próxima terça-feira, uma
reunião na Câmara entre a Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos da Classe
Trabalhadora, o Fórum da Terceirização e o Fórum Interinstitucional em Defesa
do Direito do Trabalho e da Previdência Social vai determinar a ação que a
classe trabalhadora adotará para pressionar os deputados.
"Queremos
sair de lá com ações definidas e com pedido de conversas com os líderes dos
partidos e com o presidente da Casa (Rodrigo Maia)", afirmou a secretária
de Relações do Trabalho do Diretório Nacional da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), Graça Costa. Para ela, a votação do 4.302 é um
"golpe" contra os trabalhadores. "Nós entendemos como um
retrocesso e um absurdo muito grande. Sobretudo, por não ouvir o que o
trabalhador tem a dizer", disse. Uma das preocupações da CUT é que a
terceirização precarize as relações de trabalho, com previsão de ampla
rotatividade e possibilidade de substituição de contratos de trabalhadores por
outros terceirizados.
Esse
temor, em específico, não preocupa o economista Bruno Ottoni, pesquisador do
Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV).
"Provavelmente, as empresas e mesmo os órgãos públicos não terceirizarão
tudo. Há certos conhecimentos específicos e sigilosos que as empresas não vão querer
confiar a terceirizados", analisou. Ele ressaltou, contudo, que não faltam
casos em que as terceirizadas deixam de recolher INSS e FGTS, decretam falência
e "simplesmente criam uma nova empresa". O vice-presidente da Central
Brasileira do Setor de Serviços (Cebrasse), Ermínio Lima Neto, destacou que a
proposta não toca nos direitos trabalhistas previstos pela CLT e que o
trabalhador terá "dupla garantia de direitos". O projeto prevê uma
responsabilidade subsidiária, de modo que o empregado terceirizado possa
cobrar, em último caso, o pagamento de obrigações trabalhistas à empresa
contratante
Com Correio
Braziliense
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