terça-feira, 27 de julho de 2010

Trem de Prata pode levar fiéis a Aparecida


30/08/2009 - G1
Trem santo, expresso da fé, trem dos romeiros. O nome ainda não está definido, mas se depender da Secretaria de Turismo de Aparecida a locomotiva que vai ligar essa cidade à capital paulista parte soltando fumaça ainda no fim deste ano. O principal objetivo é levar turistas e romeiros até o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, distante 167 km de São Paulo. “Teremos um afluxo turístico porque as pessoas vão ter a curiosidade de vir de trem”, apostou o secretário de Turismo de Aparecida, Diego Samahá.
“Os benefícios são inúmeros. É o resgate do transporte do trem e acho que vamos diminuir o tráfego na Via Dutra, que é o único acesso a Aparecida. Temos notícias de romeiros que vinham de trem para cá há uns 50 anos”, afirmou.
A Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), responsável pela operação do trem, pôs um freio nas pretensões de Samahá. Por meio de sua assessoria de imprensa, disse que o projeto ainda está em fase de estudo, é viável, mas não tem data para ser colocado em prática.
Um dos empecilhos está em Juiz de Fora, Minas Gerais. São os vagões do antigo Trem de Prata, que fazia a ligação por trilhos entre Rio de Janeiro e São Paulo na década de 1990. Eles serão usados neste expresso turístico, mas precisam passar por restauração. “Eles ficaram em desuso por muito tempo”, disse Luiz Flaviano Furtado, coordenador de Turismo do estado de São Paulo.
Apesar do cronograma caminhar em velocidade lenta, uma vez que os vagões não começaram a passar pelo restauro, o secretário estadual de Turismo de São Paulo se mostrou otimista. Trabalhamos com a previsão de colocar o trem em operação até o fim do ano, disse Claury Alves da Silva.
Andando nos trilhos
O trem percorreria aproximadamente 200 km, saindo da Estação da Luz, na região central de São Paulo, até chegar à estação ferroviária de Aparecida. Se a viagem será direta ou com paradas é mais um ponto a definir, mas ele funcionaria nos fins de semana. A malha ferroviária já está pronta. É a mesma usada por trens de carga que cortam o Vale do Paraíba.
De acordo com Silva, a passagem, a princípio, custaria R$ 28 para ida e volta. A ideia inicial é fazer viagens no mesmo dia, mas estuda-se a possibilidade de que os visitantes durmam em Aparecida e voltem no dia seguinte. A meta é criar uma demanda para que o turista possa pousar na cidade.
Cada trem teria capacidade para 450 pessoas, como estimou o secretário de Turismo de Aparecida, Diego Samahá. De acordo com ele, a “cidade está preparada” para receber novos turistas. Em 2008, foram 9,5 milhões de visitantes ao longo do ano. No feriado de 12 de outubro, quando é celebrado o dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, o município de 36 mil habitantes chega a reunir até 200 mil peregrinos. É a data mais importante da cidade, que só perderia para o Vaticano em número de turistas.
Horários
O projeto do expresso turístico, que envolve ainda a Secretaria de Esporte, Lazer e Turismo do estado e a Secretaria dos Transportes Metropolitanos, precisa passar pela concessionária MRS. É ela que detém a concessão da malha ferroviária no Vale do Paraíba e precisa ceder espaço para o trem de turistas.
“A grande questão é o compartilhamento (de horário)”, explicou Sérgio Henrique Carrato, gerente de concessão e arrendamento da empresa. De acordo com ele, os trens que passam 24 horas entre Rio e São Paulo são só de cargas, mas uma cláusula no contrato da MRS prevê algumas viagens de passageiros naquele trajeto.
Carrato afirmou saber sobre a ideia do expresso até Aparecida, mas garantiu que “até o momento nunca houve a apresentação de documentos ou proposta” acerca do tema.
Apesar da demora nas ações práticas, o coordenador de Turismo do estado mostrou otimismo. “Não visamos a rentabilidade, mas a interiorização e expansão do turismo paulista. É um resgate da nossa história”, disse Luiz Flaviano Furtado.

Trem de Prata tinha conforto sem pressa
25/07/2010 - Agência Estado
O Brasil já foi um País sobre trilhos. No fim da Segunda Guerra Mundial, as ferrovias intermunicipais e interestaduais transportavam 70 milhões de passageiros por ano, sem contar os trens urbanos. Naquela época, o serviço era feito por 43 operadoras, que iam desde Central do Brasil (RJ) e Companhia Paulista de Estradas de Ferro (SP) até as remotas Nazaré (BA) e Itabapoana (ES), destaca Gerson Toller, especialista no setor. O número de passageiros chegou ao pico de 100 milhões em 1960 - próximo do número que hoje é transportado pelos ônibus em todo País, de 133 milhões.
Praticamente todos os serviços foram extintos no fim do século 20, com a decadência da Rede Ferroviária e da Fepasa. Antes disso, o brasileiro conheceu o glamour ferroviário do Trem de Prata, que fazia o trajeto que o trem-bala deve fazer no futuro, entre Rio e São Paulo. Com vagões aconchegantes e ambientes românticos, a composição circulou entre dezembro de 1994 e novembro de 1998.
A malha ferroviária entre os dois Estados foi construída em 1949 e se chamava Santa Cruz. Durante 40 anos, os trens da operadora circularam pelo trecho, até a última viagem em fevereiro de 1991. O Trem de Prata foi uma tentativa de retomar o transporte de passageiros entre as duas regiões. Em 1994, a Rede Ferroviária decidiu fazer uma parceria com a iniciativa privada e retomou o serviço. O Trem de Prata operava à noite e demorava 9h30 para chegar ao destino.
Mas os passageiros não reclamavam. Em vagões-leito, com banheiro privativo, chuveiro e água quente, eles tinham direito até a um jantar francês, com som ambiente e luz de abajures.

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