Uma das manchetes da edição de junho da
Revista Exame anuncia: "Robôs que transformam dados em textos chegam às
redações". A matéria, apurada pela agência espanhola EFE, menciona que os
robôs seriam os "jornalistas do futuro, sem cabeça para pensar ou mãos
para escrever". A técnica, já utilizada pelo Jornal francês Le Monde, pode
produzir notícias que não necessitem de análise e que se nutram principalmente
de dados, como resultados de eleições ou de eventos esportivos. A agência
americana Associated Press é outro exemplo de empresa jornalística que
aproveita as máquinas para a redação de matérias esportivas e financeiras. Nos
meios digitais, um blog da revista americana Forbes também divulga ações
negociadas nas bolsas de valores por meio de um software de inteligência
artificial.
Para aliar os temas de tecnologia e
jornalismo, a Revista Superinteressante divulgou os resultados de um estudo
realizado pela Universidade de Munique Ludwig-Maximilians. A pesquisa destacou
que as pessoas abordadas confiam mais em textos gerados por algoritmos do que
naqueles escritos por jornalistas reais. Ao mesmo tempo em que os leitores
acharam as matérias escritas por humanos mais legíveis, avaliaram melhor as
notícias geradas por computador no quesito credibilidade.
Para o professor da Faculdade de
Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(Famecos/PUC-RS), Tibério Vargas Ramos, o uso de robôs pelas redações de
jornais é o momento culminante da absoluta negação do jornalismo. Ainda que as
máquinas sejam utilizadas para a divulgação de dados, Ramos afirma que esses
mesmos dados precisam ser avaliados e ter seu valor científico discutido.
"O texto de autoria é a única maneira para enfrentar os robôs", ressalta.
Na visão do professor, somente o profissional do jornalismo está preparado para
ter um olhar sobre os fatos, realizar entrevistas e fazer uma análise
aprofundada das informações.
A professora Ana Cecília Bisso Nunes,
também docente na Famecos, concorda que a forma como as máquinas estão sendo
utilizadas atualmente não substitui as reportagens com profundidade.
Entretanto, acredita que a expansão da robótica nas empresas de comunicação
cria novas possibilidades para o profissional focar em atividades que, em virtude
de trabalhos burocráticos e repetitivos, não teria tempo para produzir.
"Os robôs podem contribuir na resposta dos 'o quês', mas só os jornalistas
poderão responder os 'porquês', que são o motivo pelos quais as pessoas
valorizam a leitura de um jornal e pagam pelo periódico", destaca Ana
Cecília.
(*) Estudante de jornalismo da Faculdade de Comunicação Social da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Famecos/PUC-RS) e
integrante do projeto 'Correspondente Universitário' do Portal Comunique-se.
Nenhum comentário:
Postar um comentário