O presidente
nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), tem atuado nos bastidores para
indicar o sucessor de Murilo Ferreira no comando da Vale. Ele pressiona o
Palácio do Planalto pelo cargo, que fica em aberto daqui a três meses, quando
termina o mandato do executivo.
A ofensiva do
tucano desperta grande incômodo nos sócios privados da mineradora, que já
admitem o que era impensável alguns meses atrás: a permanência de Ferreira por
mais dois anos.
A Vale já havia
se tornado objeto de desejo do PMDB de Minas Gerais. O vice-governador do
Estado, Antônio Andrade, faz parte do grupo que foi ao Planalto no início do
governo Michel Temer com o pedido de colocar um aliado na presidência da
companhia.
No entanto,
segundo fontes do governo e da iniciativa privada com trânsito na Vale, a
pressão de Aécio cresceu nas últimas semanas. O senador tucano foi advertido
por auxiliares de Temer, em tom bem humorado, de que a cobiça por cargos na
Esplanada dos Ministérios e em empresas com participação acionária da União
estaria transformando o PSDB no partido da boquinha.
A expressão foi
cunhada pelo ex-governador do Rio Anthony Garotinho, em referência à fome do PT
por indicações partidárias.
Interlocutores
de Aécio afirmam reservadamente que, embora ele esteja batalhando para
influenciar na sucessão de Ferreira, descarta a possibilidade de emplacar um
político e se serviria de pessoas do mercado para a Vale. Mas executivos antes
vistos como potenciais sucessores, como José Carlos Martins e Tito Martins,
desabaram recentemente na cotação. Ambos foram diretores da mineradora. José
Carlos atua hoje como conselheiro da NovaAgri; Tito preside atualmente a
Votorantim Metais.
Diante da
disputa entre PMDB e PSDB pelo comando da mineradora, os sócios privados da
Vale consideram a perspectiva de renovação do mandato de Ferreira, que vence em
maio. Bradespar, Mitsui, BNDES Participações e Litel fazem parte do bloco de
controle da empresa. A Litel é formado por fundos de pensão de estatais, com
liderança da Previ e fatias menores de Funcef e Petros.
No ano passado,
os acionistas da Vale se empenharam para demover o Planalto da ideia de
antecipar o fim da gestão de Ferreira e conseguiram mantê-lo no cargo.
Ferreira assumiu
a presidência em maio de 2011, substituindo Roger Agnelli - que ficou por dez
anos -, cumprindo três mandatos consecutivos. Se sua recondução se confirmar,
ele ficará, portanto, mais dois anos, somando um período de oito anos no cargo.
Antes disso, o executivo foi diretor na Vale, onde chegou a ocupar a
presidência das operações de níquel no Canadá, que foram adquiridas da Inco em
2006.
Apesar de
críticas pontuais ao trabalho do executivo, como o descuido com a construção de
um sucessor à presidência dentro da própria mineradora, os acionistas enfatizam
que sua continuidade à frente da Vale seria muito melhor do que o risco de
vê-la capturada por ingerências políticas.
Vale é obsessão de Aécio |
No PMDB de
Minas, a atuação do chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, é vista com ressalvas.
Parlamentares da legenda reclamam que ele dá ouvidos demais aos pedidos do PSDB
porque é um pemedebista com bico de tucano, desenvolvido após sua passagem como
ministro dos Transportes na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
O PSDB acabou de
emplacar o novo diretor-geral do lado brasileiro de Itaipu Binacional, Luiz
Fernando Vianna. Ele tem ligação com o governador do Paraná, Beto Richa, mas é
um respeitado técnico do setor elétrico. Era diretor-presidente da Companhia Paranaense
de Energia (Copel) e, antes disso, chefiava uma importante associação de
geradoras.
Há queixas, no
PMDB de Minas, que o Estado ficou sem representação no primeiro escalão do
governo federal pela primeira vez em muitas décadas. Por isso, esse grupo pede
compensações. Ao Temer assumir como presidente interino, o deputado Newton
Cardoso Jr. (PMDB-MG) foi indicado ao Ministério da Defesa, mas a cúpula das
Forças Armadas protestou por causa de sua idade - 37 anos - e a indicação durou
só meia hora.
Para diminuir a
insatisfação da bancada mineira, o governo entregou o comando de Furnas -
subsidiária do grupo Eletrobrás - para o grupo. A alegação foi de que a estatal
é maior do que um ministério. Quem tomou posse foi Ricardo Medeiros, que já era
diretor de operação e manutenção.
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