terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Ameaças a André Caramante: Diretor do Estadão conta que Folha tem motivos para ficar em silêncio


Vereador tucano ameaça jornalista
Vereador eleito pelo PSDB e ex-comandante da ROTA ameaça jornalista da Folha, que se cala.
O caso do repórter da Folha de S. Paulo, André Caramante, e a questão da segurança dos jornalistas no Brasil foi tema de discussão durante o seminário de comemoração dos 10 anos da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Presente na ocasião, o diretor do Grupo Estado no Rio de Janeiro, Marcelo Beraba, disse que a Folha provavelmente tem motivos para não tornar ainda mais público o caso.
Caramante virou assunto no final do evento quando Sérgio Gomes, diretor da Oboré, questionou os profissionais sobre a situação do jornalista que está fora do país por sofrer ameaças após fazer uma reportagem sobre o recém eleito vereador da capital paulista, Coronel Telhada (PSDB). Em resposta, Beraba, que já foi ombudsman da Folha, explicou que o veículo não deixaria de noticiar um fato como este se não houvesse motivo.
"Entre todos os jornais, a Folha é a que mais tem postura de tornar público assuntos como este porque ela entende que essa é a melhor forma de agir. Mas, neste caso específico, eles têm tido atitude de se reservar e não é sem motivo", argumentou o executivo do Grupo Estado.
Da Universidade do Texas, Rosental Calmon Alves, que veio especialmente para o evento, compartilhou da mesma opinião e explicou que cada caso é um caso. "Às vezes vemos a situação de fora e achamos que não está sendo feito nada. Mas é muito importante ter cuidado ao criticar, porque às vezes faz parte da peculiaridade do caso", disse. Ele explica que tornar público nem sempre é o melhor a se fazer. É exatamente assim que Fernando Rodrigues, jornalista da Folha de S. Paulo, pensa. "O ganho em ficar chamando a atenção para este episódio pode ser menos positivo para a segurança específica do profissional", disse.
O evento, que foi realizado na manhã desta segunda-feira, 10, na Escola de Comunicação e Arte  da Universidade de São Paulo (ECA-USP), reuniu diversos estudantes e profissionais. Entre eles, o professor da USP Claudio Tognolli, Angelina Nunes (O Globo), Marcelo Moreira (TV Globo), e José Roberto Toledo (vice-presidente da Abraji).
Caso André Caramante
A história de André Camarante, que desenrola desde julho, ficou conhecida quando diversas pessoas começaram a ameaçar o jornalista pela publicação da matéria “Ex-chefe da Rota vira político e prega a violência no Facebook”, que denunciava Telhada. Depois disso, todos os textos assinados por Caramante passaram a ser bombardeados por comentários ameaçadores. 
Com 34 anos, sendo 13 dedicados à cobertura de pautas nas áreas de segurança pública, Caramante conversou com a jornalista da revista Época, Eliane Brum, e deu detalhes sobre a situação. " [Estou escondido] desde o início de setembro. Os advogados do jornal encaminharam às autoridades uma solicitação de investigação sobre as ameaças. Alterei completamente minha rotina e minha localização", explicou.
Embora não esteja na redação, Caramante segue com o trabalho normalmente. "Não estar fisicamente na redação me causa impedimentos que são irrisórios frente à necessidade atual de garantia da integridade, minha e da minha família", disse ele à Época.
Nathália Carvalho

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