Vereador tucano ameaça jornalista |
O caso do repórter da Folha de S. Paulo,
André Caramante, e a questão da segurança dos jornalistas no Brasil foi tema de
discussão durante o seminário de comemoração dos 10 anos da Associação
Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Presente na ocasião, o diretor
do Grupo Estado no Rio de Janeiro, Marcelo Beraba, disse que a Folha
provavelmente tem motivos para não tornar ainda mais público o caso.
Caramante
virou assunto no final do evento quando Sérgio Gomes, diretor da Oboré,
questionou os profissionais sobre a situação do jornalista que está fora do
país por sofrer ameaças após fazer uma reportagem sobre o recém eleito vereador
da capital paulista, Coronel Telhada (PSDB). Em resposta, Beraba, que já foi
ombudsman da Folha, explicou que o veículo não deixaria de noticiar um fato
como este se não houvesse motivo.
"Entre
todos os jornais, a Folha é a que mais tem postura de tornar público assuntos
como este porque ela entende que essa é a melhor forma de agir. Mas, neste caso
específico, eles têm tido atitude de se reservar e não é sem motivo",
argumentou o executivo do Grupo Estado.
Da
Universidade do Texas, Rosental Calmon Alves, que veio especialmente para o
evento, compartilhou da mesma opinião e explicou que cada caso é um caso.
"Às vezes vemos a situação de fora e achamos que não está sendo feito
nada. Mas é muito importante ter cuidado ao criticar, porque às vezes faz parte
da peculiaridade do caso", disse. Ele explica que tornar público nem
sempre é o melhor a se fazer. É exatamente assim que Fernando Rodrigues,
jornalista da Folha de S. Paulo, pensa. "O ganho em ficar chamando a
atenção para este episódio pode ser menos positivo para a segurança específica
do profissional", disse.
O evento,
que foi realizado na manhã desta segunda-feira, 10, na Escola de Comunicação e
Arte da Universidade de São Paulo (ECA-USP), reuniu diversos estudantes e
profissionais. Entre eles, o professor da USP Claudio Tognolli, Angelina Nunes
(O Globo), Marcelo Moreira (TV Globo), e José Roberto Toledo (vice-presidente
da Abraji).
Caso André
Caramante
A história
de André Camarante, que desenrola desde julho, ficou conhecida quando diversas
pessoas começaram a ameaçar o jornalista pela publicação da matéria “Ex-chefe
da Rota vira político e prega a violência no Facebook”, que denunciava Telhada.
Depois disso, todos os textos assinados por Caramante passaram a ser
bombardeados por comentários ameaçadores.
Com 34 anos,
sendo 13 dedicados à cobertura de pautas nas áreas de segurança pública,
Caramante conversou com a jornalista da revista Época, Eliane Brum, e deu
detalhes sobre a situação. " [Estou escondido] desde o início de setembro.
Os advogados do jornal encaminharam às autoridades uma solicitação de
investigação sobre as ameaças. Alterei completamente minha rotina e minha
localização", explicou.
Embora não
esteja na redação, Caramante segue com o trabalho normalmente. "Não estar
fisicamente na redação me causa impedimentos que são irrisórios frente à
necessidade atual de garantia da integridade, minha e da minha família",
disse ele à Época.
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