Ao longo dos últimos 40 anos, o sistema de transportes brasileiro pegou a estrada, mas acabou saindo dos trilhos e empreendeu uma velocidade tão lenta que, no início desta década, quase parou. Os sucessivos governos trocaram, sem planejamento, o modelo ferroviário pelo rodoviário, elevando o investimento no setor a 1,8% do Produto Interno Bruto (PIB) no início da década de 70. Nos anos seguintes, porém, com a economia patinando, o percentual foi reduzido até chegar ao fundo do poço em 2003, com 0,11%.
Agora, está em 0,5%. Enquanto isso, a população em 40 anos mais do que dobrou e chega a 191 milhões.
Em 1969, ano em que foi criado o caderno de Economia do GLOBO, para cada quilômetro de asfalto, havia um quilômetro e meio de ferrovia. De lá para cá, enquanto a malha rodoviária explodiu 180%, as ferrovias regrediram 14%. As estradas pavimentadas se estendem a 61,8 mil quilômetros enquanto as linhas férreas limitam-se a 28 mil quilômetros. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) tem a ambição de mudar esse cenário: há obras em andamento e projetos que podem assegurar 4,2 mil quilômetros de estradas de ferro.
Para o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Bernardo Figueiredo, as quatro décadas não se traduziram em avanços na infraestrutura do setor de transportes, que continua dependente na sua quase totalidade de uma malha rodoviária cara e ineficiente.
— Na verdade, mudou apenas a complexidade, com a ampliação moderada das rodovias nas regiões Nordeste e Centro-Oeste. Mas a base de infraestrutura é a mesma, infelizmente não tivemos melhorias significativas — constata Figueiredo.
Segundo o secretário de Política Nacional de Transportes do Ministério dos Transportes, Marcelo Perrupato, os governos não tinham como prioridade os investimentos setoriais. Além disso, argumenta, havia resistência em relação ao uso de ferrovias para o transporte de carga. Desta forma, sem uma demanda definida para a modalidade, a construção dos trilhos foi sendo sempre postergada.
— Até a década de 70 havia um equilíbrio entre o ferroviário e o rodoviário. Depois desequilibrou. Foi uma vertiginosa época de construção e pavimentação de estradas. Não tinha integração de modalidade. Era rodovia e não se fazia mais nada na ferrovia. Algo muito disperso — diz Perrupato.
O impulso às rodovias ocorreu justamente numa época de petróleo abundante e barato no mundo, antes dos choques que marcariam a década de 70. Internamente, a jovem indústria automobilística nacional pressionava por mais estradas.
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