terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Prefeitos mineiros abrem guerra contra mineroduto

Jornal Estado de Minas

Jornalista Luiz Ribeiro
O anúncio de investimentos para a exploração das jazidas de minério de ferro descobertas no Norte de Minas – estimadas em 12 bilhões de toneladas – criou a expectativa de geração de mais de 20 mil empregos numa região que sempre conviveu com pobreza, agravada pela falta de chuvas. Mas gerou também uma polêmica em torno do escoamento da produção. Um dos grupos investidores anunciou a intenção de construir um mineroduto ligando a região até um porto no Sul da Bahia, alegando redução de custos.
A iniciativa confronta com a proposta do governo de Minas, que gostaria de implantar uma ferrovia de 200 quilômetros de Grão-Mogol a Caitité, também na Bahia. O argumento é que a ferrovia gera mais desenvolvimento e poderia transportar passageiros. A queda de braço está formada e o governo encontrou aliados nos prefeitos da região, que apontam danos ambientais e alegam que o mineroduto gera um grande consumo de água e o Norte de Minas é uma região seca. A proposta de construção do mineroduto é dos dirigentes do chamado Projeto Salinas, liderado pela Sul-Americana de Metais (SAM), controlada pela Votorantim Novos Negócios (VNN) – que está, neste momento, transferindo o empreendimento para a empresa chinesa Hondridge Holdings Ltd, por US$ 430 milhões.
O Projeto Salinas envolve 94 permissões de exploração de direitos minerários numa área que compreende cerca de 20 municípios mineiros, onde as reservas podem chegar a 6,5 bilhões de toneladas. A previsão dos empreendedores é produzir 25 milhões de toneladas por ano, com o projeto devendo entrar em operação entre 2012 e 2014. De acordo com o geólogo João Carlos Cavalcanti, sócio do empreendimento (é dono de 22% da empresa Sul-Americana de Metais), os chineses vão garantir os investimentos de US$ 3,5 bilhões em toda logística para retirada e venda do minério.
Cavalcanti assegurou que, dentro da infraestrutura, a ser bancada pelos chineses, foram feitos estudos para a construção de um mineroduto, ao longo de 460 quilômetros, entre Rio Pardo de Minas, sede do Projeto Salinas, e o Porto Sul, entre Itacaré e Ilhéus – num local chamado Ponta da Tulha, no Sul da Bahia. O porto, segundo ele, será implantado pelo governo federal, com o apoio do governo baiano.
Conforme o geólogo, o mineroduto deverá custar entre US$ 800 milhões e US$ 1 bilhão. Cavalcante disse que tomou conhecimento da disposição do governo de Minas de construir uma ferrovia e que aceita discutir o projeto, mas argumenta que o custo do transporte do minério de ferro via mineroduto é de US$ 0,36 por tonelada. Por ferrovia, disse, o valor pode chegar a US$ 15 ou US$ 16 por tonelada transportada.
O argumento, contudo, não convence o prefeito de Rio Pardo de Minas, Antônio Pinheiro (PRTB), que se opõe à construção do mineroduto. “A população é contra o mineroduto porque vai contaminar o meio ambiente. Além disso, ele precisa de muita água, o que não temos”, afirma. O mineroduto também é rechaçado pelo prefeito de Taiobeiras, Denerval Germano da Cruz (PSDB). “A exploração mineral vai trazer desenvolvimento. Mas não pode levar um bem muito precioso para a região, que é a água”, observa, lembrando que há 12 anos lideranças regionais lutam pela construção da barragem de Berizal (no município homônimo, vizinho a Taiobeiras), financiada com recursos federais, mas que está emperrada devido à falta de licenciamento ambiental. “A ferrovia será uma opção para trazer outras riquezas para o Norte de Minas”, acredita.
Por sua vez, o geólogo Carlos Cavalcanti ameniza as alegações dos prefeitos em relação aos impactos que seriam provocados por um mineroduto, alegando que, para cada tonelada de minério de ferro, apenas 30% seriam de água – “é uma espécie de uma polpa”, diz. O sócio do Projeto Salinas disse também que os investidores encomendaram estudos que apontam que a água para o mineroduto seria retirada de “uma grande barragem” na região, mas não informaram qual.
A proposta do governo de Minas é a construção de uma ferrovia que sirva também para o transporte de outros produtos. O subsecretário de Desenvolvimento Mínero-metalúrgico e de Política Energética, Paulo Sérgio Ribeiro, disse que o estado não vai se opor de forma sistemática à construção de um mineroduto se a obra for apontada como essencial para a viabilidade econômica do empreendimento. Ele lembra, porém, que o governo do estado faz a opção pela ferrovia porque pretende agregar valor à exploração mineral, estimulando outras atividades econômicas no Norte de Minas, hoje, a região do estado com o mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O subsecretário disse que o governo vai encomendar um estudo técnico sobre a construção da ferrovia.

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