Josias de Souza, o blogueiro da Folha que é um dos mais assíduos freqüentadores do ninho tucano, postou na sexta-feira (11) um artigo que deve ter irritado os caciques do PSDB – partido rachado e conflagrado por disputas internas sangrentas. Se citar a fonte, o jornalista revelou:
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Em seus diálogos privados, Fernando Henrique Cardoso tem dedicado a Aécio Neves críticas ácidas.
Em seus diálogos privados, Fernando Henrique Cardoso tem dedicado a Aécio Neves críticas ácidas.
Na opinião de FHC, o comportamento de Aécio é incompatível com o desejo dele de ser candidato à Presidência da República.
Presidente de honra do PSDB, FHC se queixa da “ausência” de Aécio na discussão sobre os temas mais relevantes. “Ele não dialoga com a nação”, resume.
Ao esmiuçar o raciocínio, FHC declara: não se trata de antecipar a campanha, mas de escolher um rol de assuntos e se apresentar para o debate.
Ao esmiuçar o raciocínio, FHC declara: não se trata de antecipar a campanha, mas de escolher um rol de assuntos e se apresentar para o debate.
FHC considera ultrapassada a estratégia de esperar que o calendário se aproxime do ano eleitoral para iniciar a exposição. É tática “velha”, eis a palavra que usou.
Insinua que, desde que se elegeu senador, no ano passado, Aécio enfurnou-se no Senado. O ideal, segundo diz, é que o presidenciável corresse o país...
Na opinião de FHC, deve-se, sobretudo, ao vazio proporcionado pela inação de Aécio a sobrevida da candidatura presidencial de José Serra.
FHC enxerga em Serra, por exemplo, credenciais para fazer incursões no debate sobre a degradação moral da política.
Costuma dizer que sempre houve corrupção na política. Mas acha que, agora, subverteu-se a ordem das coisas: há política na corrupção.
Dito de outro modo: hoje, a corrupção, por abundante, prevalece sobre a política, ofuscando-a. “O Serra é duro o bastante para romper com isso”, acredita.
O que se esconde sob os comentários de FHC é, em essência, uma ponta de decepção com Aécio.
Nas pegadas da derrota de Serra para Dilma Rousseff, na eleição presidencial do ano passado, FHC dissera que a fila do PSDB andara. Seria a vez de Aécio.
Daí o desapontamento. Na avaliação de FHC, Aécio desperdiça sua hora.
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Bafômetros e blitz policial
Bafômetros e blitz policial
Em síntese, o ex-presidente FHC – ou será o próprio Josias – acha que o senador mineiro deve ser mais agressivo na sua ambição presidencial, viajando o país e atacando a “corrupção sistêmica” do governo Dilma Rousseff. Deveria, quem sabe, deixar de participar de badaladas festinhas no Rio de Janeiro, que inclusive lhe causam algumas ressacas e dores de cabeça – como bafômetros e blitz policial.
Não se sabe se o “desapontamento” e a bronca do chefão tucano já causaram efeitos. Mas, na sequência, Aécio Neves visitou o Rio Grande do Sul. Mais animado, Josias de Souza registrou hoje (13) que, finalmente, ele “cumpre uma agenda de candidato... Sob o eco das críticas de FHC, que prega a necessidade de Aécio se expor mais, o senador disse que fará um giro pelo país”.
A Yeda participou da caminhada?
A Yeda participou da caminhada?
Segundo seu relato, “na capital gaúcha, o senador almoçou com militantes do PSDB. Foi recebido aos gritos de ‘Aécio presidente’. Discursou, tirou fotos, caminhou pelas ruas do centro de Porto Alegre, visitou uma feira de livros. Viu e foi visto... Sem citar Dilma Rousseff, declarou que a gestão petista vive de ‘segurar um ministro aqui, segurar outro acolá’”.
Aécio, porém, não deve ter falado muito sobre corrupção. Afinal, os gaúchos aplicaram recentemente uma dura derrota ao PSDB, expulsando a governadora Yeda Crusius, com sua mansão mal-explicada e inúmeras denúncias de desvios de recursos públicos. O cínico discurso da “ética” não cola muito entre os gaúchos, que conhecem bem o “jeito tucano de roubar”.
"Não temos vergonha das privatizações"
Aécio aproveitou, então, para bajular o chefe. “Temos que assumir o nosso legado, não temos que ter vergonha das privatizações”. Com seu ego inflado, FHC deve ter gostado do carinho. Mas, conforme o tempo for passando, o senador mineiro também deverá abandonar a defesa da privataria – a exemplo do que fizeram José Serra e Geraldo Alckmin nas três últimas disputas presidenciais.
Altamiro Borges
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