A revista Veja, que se comporta como o Diário Oficial do Apocalipse, deu sinais de que a velhice se impõe até mesmo para quem sempre defendeu ideias ultrapassadas. Nada como o tempo, o eterno senhor da razão.
Pois não é que a revista semanal resolveu praticar revisionismo histórico inconsciente? Devem estar ficando caducos, lá na redação. Ou é remorso mesmo.
Em uma daquelas reportagens mixurucas que não passam de editorias camuflados, algum editor com Alzheimer resolveu dar lições de ética e bons costumes, como sempre fazem, até quando o assunto é cinema ou culinária.
Com a modesta pretensão de acabar com o fisiologismo no Brasil, traçam um breve panorama da história recente do país, sem perceber que remoem culpas e empilham atos falhos.
Logo a Veja, que apoiou incondicionalmente o regime militar (e dele se beneficiou, após a saída do jornalista Mino Carta, verdade seja dita), resolve, num ato intempestivo, registrar para os anais que “na ditadura, nomeações de prefeitos e governadores era uma maneira de saciar os caciques políticos locais”.
Rufem os tambores! A Veja enfim descobriu que passamos por uma ditadura. Eureka! E que ela foi corrupta e clientelista! Uia. Agora vai!
Em seguida, o evangelho da Veja nos ensina: “Sarney distribuiu cargos nas antigas estatais e nos ministérios”. Agora, prepare-se, é chocante: “Antonio Carlos Magalhães, chefe do PFL baiano, tornou-se o babalorixá do Ministério das Comunicações e serviu concessores de radio e TV à vontade a parlamentares que votavam com o governo”.
Estou perplexo. A Veja, que fez parte da tropa de choque do governo Sarney? A Veja, que apoiava todas as malvadezas de ACM, a quem acompanhou como cão de guarda? A Veja? Só pode ser descuido, senilidade. Alguém tem de ser demitido. Ou aposentado.
A matéria, em seguida, fica cozinhando o galo de sempre. “Fernando Collor, mais por autossuficiência do que por convicção, não cedeu tanto ao fisiologismo”. “Itamar retomou o costume aos poucos”. “Fernando Henrique Cardoso deu espaços preciosos do governo... mas não negociou no varejo.” Tirando Itamar, tratado a pontapés, Collor e FHC nunca tiveram do que reclamar da imprensa que, veja só!, sempre os apoiou.
Para Lula, não há esclerose que atenue o ódio: “não hesitou em retalhar o governo”. Aí sim reconheço a maior revista de informação do país. Deve ser difícil continuar existindo sem ninguém para prestar atenção nas bobagens que dizem. A idade pesa.
Marco Antônio Araújo - O Provocador
Vi no Mingau de Aço
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