Wu Ying nos bons tempos. |
Wu Ying era o retrato da Nova China. Nascida numa família pobre de camponeses, aos 25 anos ela já estava na lista das pessoas mais ricas da China, segundo uma influente revista local de negócios, a Hurun . A partir de um salão de beleza, Wu criou uma rede de empreendimentos que deu a ela um patrimônio avaliado em cerca de 700 milhões de reais. Suas atividades filantrópicas – em torno das quais ela tratava de fazer estardalhaço, como é tão comum entre os bilionários americanos – renderam a ela uma copiosa cobertura festiva na mídia chinesa.
Hoje, aos 31 anos, Wu continua a ser o retrato da China – mas numa situação oposta. Ela simboliza, agora, a complexidade jurídica e financeira do país.
Wu foi condenada à morte por fraudes financeiras. Ela arrecadou dinheiro de investidores privados sob a promessa de retornos espetaculares que – clássico na história tola e gananciosa da humanidade – acabaram não se materializando.
Nesta semana, a sentença foi suspensa, e a expectativa é que haja um novo julgamento para a jovem chinesa que foi rapidamente do topo para o abismo.
O caso arrebatou os chineses e chamou a atenção para vários pontos que necessitam de reforma urgentemente.
Primeiro, a severidade da lei para crimes financeiros que não envolvem violência física. Há sentido em pena de morte? A opinião pública chinesa está dizendo que não, e é provável que a legislação seja revista. (Um crédito deve ser dado, aí, aos internautas chineses, que comandaram uma campanha pela vida da jovem empreendedora caída.)
Depois, o que levou Wu a procurar investidores privados foi consequência da estrutura financeira em vigor na China. Pequenos e médios empresários como ela têm imensa dificuldade em conseguir financiamento dos grandes bancos locais. Estes colocam a esmagadora maioria de seu dinheiro em empresas governamentais – absolutamente seguras.
Acabou florescendo, por conta disso, uma espécie de mercado paralelo de empréstimos. Nele, o retorno é maior, e o risco também. É uma espécie de agiotagem destinada não às pessoas físicas, mas aos pequenos e médios empresários. Wu, provavelmente, acabou colhida nesta teia.
Sua história tão espetacularmente oscilante é, desde já, um marco na história moderna da China – em que o capitalismo misturado com o socialismo é ainda, como se vê, a despeito do extraordinário crescimento das últimas três décadas, um edifício em construção.
Paulo Nogueira - Diário do Centro do Mundo
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