quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Reportagem revela uma história escabrosa

A revista CartaCapital desta semana mata a charada do Pinheirinho e cria um desafio do qual os grandes diários de circulação nacional não podem escapar, sob pena de lançarem mais uma pá de terra sobre o jornalismo brasileiro.
CartaCapital fez apenas o óbvio: foi investigar a verdadeira história do terreno, na cidade de São José dos Campos, cuja desocupação, autorizada pela Justiça, produziu cenas de violência contra cerca de 1.500 famílias sem moradia legal.
Tese da legalidade
Na madrugada de 22 de janeiro, um domingo, ou seja, há menos de um mês, a Polícia Militar irrompeu no terreno ocupado irregularmente e retirou os moradores de suas casas, tangendo-os para fora do perímetro da propriedade. Em seguida, máquinas contratadas pelos administradores da massa falida da indústria de café Selecta, suposta proprietária, arrasaram as casas, destruindo móveis, utensílios domésticos, documentos e recordações daquela gente.
Na chamada grande imprensa, um silêncio apenas quebrado aqui e ali por manifestações esporádicas de articulistas. Num desses artigos, publicado numa quarta-feira, 1/2, na Folha de S.Paulo, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) procurou defender o governo paulista batucando na tese da legalidade da ação policial.
A serviço de Nahas
Dizíamos, no Observatório da Imprensa, na terça-feira (7/2, ver “Os direitos de uns e de outros”), que “um jornalismo decente iria comparar o caso Pinheirinho com a presteza da Justiça e a sanha policial na reintegração de posse de terrenos públicos, por exemplo.
A reportagem faz o histórico do terreno de 1,3 milhão de metros quadrados, conhecido anteriormente como Campo dos Alemães, que abrigava a comunidade do Pinheirinho. Deveria ter se transformado em propriedade do Estado, mas foi parar nas mãos de Naji Nahas em 1981, ainda em contrato precário. CartaCapital demonstra claramente que todos os movimentos de Nahas na Justiça se deram no sentido de impedir a venda do terreno em leilão público.
A retirada dos moradores pobres deve valorizar ainda mais o imóvel, que, segundo demonstra a reportagem, não precisava entrar na conta dos débitos da Selecta para que fossem pagos os direitos trabalhistas apontados como justificativa para a reintegração de posse. De mesma forma, não havia outro motivo para tanta pressa na desocupação do imóvel – a não ser como forma de atender ao desejo de lucro do especulador.

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