terça-feira, 11 de outubro de 2011

Aécio tropeça, encolhe, e perde o bonde da história para Kassab

Em setembro de 2010, Aécio cogitava, nos bastidores, fazer o partido que Kassab fez (o PSD), para tirar a oposição do labirinto em que se meteu. Perdeu o bonde da história e agora ele carrega o legado anti-Lula e anti-Dilma de 2010.
Na ânsia de segurar o lugar na cadeira de principal presidenciável tucano, o senador Aécio Neves (PSDB/MG) tropeçou no próprio rabo de raposa política e caiu, cometendo erros políticos.
O tucano concedeu entrevistas à Rede TV! e ao jornal Estadão, claramente voltadas para penetrar no principal reduto tucano:  o estado de São Paulo.
Em entrevista com perguntas generosas, que praticamente levantava a bola para ele cortar, Aécio tentou dosar ousadia com cautela, e não conseguiu nem uma coisa nem outra.
Com respostas vazias, incapaz de apresentar um legado significativo de seus 8 anos no governo de Minas, com atuação apagada no Senado, nem capacidade de apresentar propostas que despertem interesse sobre grandes temas nacionais, nem sobre as aflições da oposição, a manchete que sobrou foi seu lançamento precipitado como candidato a Presidente da República em 2014, do tipo: “Aécio encara Lula ou Dilma, em 2014″.
As reações dos demais tucanos não foram boas.
O governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB/SP) praticamente disse que Aécio estava sendo nocivo à nação: - “Antecipar o debate sucessório encurta o governo e não é bom para o país”.
José Serra (PSDB/SP), que quer disputar de novo a presidência em 2014, guardou o silêncio de quem não gostou.  O senador Aloysio Nunes (PSDB/SP) defendeu que a escolha se desse por prévias e ironizou com um cínico “elogio” sobre a ”prudência” do mineiro… “ao deixar em aberto um leque de candidaturas, entre as quais a de José Serra” – deixando claro que o mineiro avançara o sinal no território alheio, e antes da hora.
Numa tacada só, Aécio fez tudo o que seu avô Tancredo não faria:
1) Foi com muita sede ao pote, dentro de seu partido, aumentando as brigas internas.
2) Ele quis falar apenas para o leitor conservador do Estadão, e tentou marcar posição dando muita ênfase na defesa de FHC e posicionando-se como um verdadeiro anti-Lula e anti-Dilma.
Acontece que Aécio está com a cabeça parada no tempo do avô, quando não tinha internet, e agiu como se estivesse falando em um auditório fechado para um público restrito.
Hoje, o que ele diz no Estadão desagrada, via internet, mais gente não leitora do jornal, do que o número de assinantes.
Eis um trecho da entrevista, com argumentos rasteiros do tipo daqueles usados por José Serra no segundo turno de 2010:
Contra Lula [em 2014] seria uma campanha mais fácil, ou mais difícil?
Acho, sinceramente, que é muito difícil alguém na Presidência, com a possibilidade da reeleição, deixar de disputar. Mas, se a disputa for com o ex-presidente Lula, acho que as diferenças ficarão ainda mais claras. Será a disputa da gestão pública eficiente contra o aparelhamento da máquina pública; a disputa da política externa pragmática em favor do Brasil versus a política atrasada em favor dos amigos…
Bater de frente com Lula, logo na política externa? Político moderado do PSDB-DEM-PPS que leu, se estava em dúvida, deve ter decidido a mudar para o PSD.
3) O auto-lançamento precipitado da candidatura, em um jornal paulista, fere sentimentos do eleitorado tucano conservador paulista, que ainda acredita ser Serra seu melhor representante, e ainda vê Aécio como algoz de Serra por não ter aceito ser vice. Seu avô Tancredo articularia, de forma que um político paulista de expressão lançasse seu nome em São Paulo.
4) Ao posicionar-se como um anti-Lula, anti-Dilma e anti-PT, ele dá sequência à campanha sectária de 2010 de José Serra (o que agrada só aos assinantes do Estadão, da Veja e da Folha), mas rasga seu próprio discurso que ele tentou apresentar antes, de uma suposta capacidade de conciliação entre o que haveria de bom no PSDB e no PT.
Aliás, Aécio tem cometido muitos outros erros, e não é de hoje.
No quadro que se formou nas eleições de 2010, havia uma legião de políticos órfãos à espera de um líder que desse rumo à oposição sectária anti-Lula, condenada a perder eleições seguidas, por falta de discurso e de rumo.
Antes mesmo das eleições, havia a expectativa de que este papel seria exercido por Aécio (a revista Carta Capital chegou a publicar uma capa sobre isso, negada por Aécio na época, pois eram conversas de bastidores). Mas quem assumiu esse papel foi Kassab, criando o PSD.
Kassab pode não ter cacife para ser presidenciável em 2014, mas ocupa um espaço de articulação política melhor do que Aécio, atualmente.
O tucano mineiro também foi incapaz de ser uma liderança que conciliasse os partidos de oposição, aglutinando o PSDB, DEM e PPS em torno de uma tática política que mostre uma luz no fim do túnel.
Ele se envolveu na luta interna para impor o controle sobre o DEM, mantendo o controle do partido nas mãos dos aecistas. Ganhou mas não levou, pelo contrário, encolheu. Venceu a disputa interna no DEM, mas os perdedores saíram todos para o PSD, deixando o DEM a caminho da extinção.
Aécio conseguiu a “proeza” de ganhar a liderança do partido, e perder liderados.
Também não consegue unir seu próprio partido, o PSDB, dividido entre serristas, alckminstas e aecistas.  A briga está gerando baixas, com políticos migrando para o PSD de Kassab.
E não consegue exercer liderança sobre o PPS, que oferece legenda para Serra e outros insatisfeitos se abrigarem, justamente pela falta de espaço decorrente do avanço de Aécio.
Resumindo, Aécio fez barulho ao lançar-se na entrevista, mas saiu menor do que entrou. Se ele pretendia consolidar-se como principal candidato oposicionista a presidente, saiu mais candidato a voltar a concorrer ao governo de Minas em 2014.
 Com a força do Zé Augusto no amigos do Brasil

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