Deveria ter sido um cenário de sonho para qualquer partido de oposição -um governo abalado por escândalos, ministros se demitindo semanalmente, uma economia em declínio e uma presidente parecendo às vezes estar sem contato com a realidade.
Mas ao invés de aproveitar a ocasião, a oposição brasileira pareceu ter murchado diante de uma crise que assolou o governo Dilma Rousseff por vários meses e que resultou na demissão de cinco ministros.
Isso tem ajudado o governo a escapar relativamente incólume e renovou uma crise de confiança na aliança de oposição centrista, fora do poder há quase uma década, e que parece mais longe de voltar ao governo do que nunca.
"A oposição tem sido incompetente, na melhor das hipóteses. Está dividida e completamente divorciada do grosso da população", Gustavo Fruet, outrora parlamentar do PSDB recém-migrado para o partido da coalizão governista PDT para concorrer a prefeito de Curitiba no ano que vem.
Dilma e a coalizão governista venceram com facilidade as eleições de outubro passado, ajudados por uma economia em ascensão e a enorme popularidade de seu mentor Lula.
Os partidos da oposição conquistaram menos de 30 por cento das cadeiras do Congresso e desde então só decaíram, perdendo liderança, unidade e mais assentos no Congresso à medida que um número crescente de legisladores deserta.
Como resultado, Dilma tem sido capaz de fechar feridas em sua dividida coalizão e se concentrar em uma economia que sente o rescaldo da turbulência financeira global.
Também pode significar uma ameaça ainda menor da oposição ao PT e seus aliados em pleitos locais no ano que vem e na corrida presidencial de 2014.
O PSDB é amplamente visto como merecedor do crédito por ter iniciado a recuperação econômica brasileira nos anos 1990 sob Fernando Henrique Cardoso, que estabilizou a inflação e introduziu reformas que agradaram aos mercados.
Desde que perdeu a presidência para Lula em 2002, entretanto, a agremiação sofre para se conectar a classes em rápida expansão que se beneficiaram do crescimento econômico e dos generosos programas sociais de Lula, que teve sucesso em apresentar seus antagonistas como elitistas que privatizariam estatais e apoiariam grandes corporações.
Falta de Líderes
Isso deveria mudar com Aécio Neves, visto como candidato natural por muitos após a última derrota de José Serra, mas seu desempenho até agora decepcionou -ele quase desapareceu da arena pública, limitando-se a discursos ocasionais de seu assento no Senado e uma coluna semanal em um grande jornal.
"Aécio provavelmente é a maior decepção da oposição. A ideia de que o PSDB, com sua experiência de governo, iria liderar a oposição foi totalmente estilhaçada, ela está atormentada por disputas internas", disse André Pereira César, analista de política da consultoria CAC em Brasília.
A dependência de fundos do governo, a possibilidade de que o ainda enormemente popular Lula possa retornar para concorrer em 2014 e a falta de líderes carismáticos são algumas das razões da hemorragia da oposição.
O DEM, segundo maior partido de oposição do país e vocalizador dos interesses do empresariado, na prática foi cindido pela decisão do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, de fundar sua própria agremiação, o PSD, atraindo mais de 50 deputados na Câmara e 600 prefeitos, muitos deles da oposição a Dilma. O PSD já mostrou sinais de que apóia a coalizão governista, dizem analistas.
O pequeno mas articulado Partido Verde, que emplacou a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva em terceiro lugar na disputa presidencial do ano passado, também desertou as fileiras opositoras e busca estreitar os laços com o governo de Dilma.
Embora Dilma não possua o carisma de Lula, manteve sua reputação de competência e parece ter ganho algum crédito entre os eleitores pela sua postura rígida contra a corrupção, motivo das demissões em seu gabinete.
Como Lula em 2003, ela se recuperou de uma queda de popularidade no início do mandato, e a aprovação de 71 por cento em uma pesquisa de opinião de setembro caiu como um golpe na moral da oposição.
Os escândalos dos últimos meses adiaram a agenda de reformas de Dilma no Congresso, incluindo uma série de medidas pró-crescimento nas indústrias de petróleo e mineração e um aumento nos impostos.
Mas o destino destes projetos de lei está muito mais ligado à sua habilidade de sanar relações com sua coalizão do que com a capacidade da oposição de bloqueá-los.
Várias tentativas opositoras para deslanchar uma CPI da corrupção fracassaram. As duas únicas derrotas do governo -o código florestal e a taxação sobre transações financeiras- foram devidas menos à oposição e mais aos parlamentares vira-casaca de sua coalizão.
"Muitos legisladores da oposição estão resignados com o fato de que não têm votos para fazer nada significativo no Congresso", disse Cristiano Noronha, analista da consultoria política Arko Advice em Brasília.
Por Raymond Colitt - agencia Reuters
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