segunda-feira, 30 de maio de 2011

175 anos do primeiro enforcamento ¨legal¨em Montes Claros.

No ano de 1836, no dia 30 de maio, realizou-se na Vila de Montes Claros das Formigas o primeiro enforcamento público com a execução do escravo Joaquim Africano, conhecido por Joaquim Nagô, por ter nascido em Nagô, acusado de haver assassinado, a 22 de abril de 1835, Joaquim Antunes Ferreira, em São José do Gorutuba, a 22 de abril de 1835. Joaquim Nagô era escravo de Manoel Lopes de Oliveira.
Submetido a julgamento, a 2 de setembro do referido ano, foi declarado culpado e condenado à pena máxima da época. Localizava-se a Forca em frente ao atual prédio n.º 66, da rua hoje denominada Governador Valadares no centro de Montes Claros.
Todavia, atribuem-lhe inocência, tendo injustamente expiado a culpa de outrem. Contra êle proferiu-se a pena máxima a 26 e março de 1836. Transferido para a Vila de Montes Claros de Formigas, aqui foi enforcado
Em virtude do serviço de pavimentação que a Prefeitura realizou em 1941,foram encontrados e desenterrados os restos dos troncos da Forca onde fôra cumprida a pena. Além de comprovar o local exato do instrumento de matar, foi verificado que a mesma tinha sido serrada junto ao chão, após a abolição da pena de morte, ficando os seus troncos, em número de três, no rés-do-chão, confundidos com o calçamento.
O Prefeito da época, dr. Antônio Teixeira de Carvalho, mandou guardar os tocos desenterrados na prefeitura prevendo um Museu Municipal de Montes Claros.
Diz Hermes de Paula no capítulo “Mártir ou assassino”?, fls.385 da sua monografia “Montes Claros, sua história, sua gente e seus costumes”:
“Acrescente-se ainda que, ao dar-se o cumprimento da sentença, a corda se partiu, sendo emendada, novamente não resistiu ao reduzido peso daquele resto de corpo humano carcomido pela fome e maus tratos. Curiosos que assistiam ao ato, pediram clemência para o réu... Nada, porém, conseguiram. O carrasco interrompeu a função por alguns minutos, foi em casa de onde trouxe um forte laço de couro ensebado... e o prêto foi enforcado irremediavelmente”. “Alguns anos depois, na Diamantina, um tropeiro agonizante confessava a autoria do crime para roubar”. A alma de Joaquim Nagô criou foros de poderosa protetora dos aflitos. Até hoje é invocada para encontrar objetos perdidos, amainar tempestades e solucionar contrariedades e crises domésticas.
O último enforcado na antiga Vila de Formigas, segundo a obra citada, teria sido outro prêto, também escravo, nos meados do século passado, por haver assassinado, por vingança, o seu senhor, cel. Joaquim Alves, proprietário da fazenda dos Fonseca, nos Veados (hoje Nova Esperança). Contam que Joaquim Alves tinha por hábito castigar seus escravos com extrema crueldade. Sobre a execução do mencionado escravo vale a pena transcrever mais um trecho da excelente monografia de Hermes de Paula:
“O criminoso foi condenado à morte, sendo conduzida para junto da fôrca, na hora da execução, tôda a população escrava da localidade.
“O réu, do patíbulo, encarou seus irmãos de cativeiro e assim externou suas últimas palavras:
—“Trouxero oucês aqui para inzempro, proucês vê eu morrê e ficá cum mêdo... Num fica cum mêdo, não Sinhô é ruim, mata sinhô... In ante de morrê eu quero cumê um pedacim de marmelada...”
 
O enforcamento do escravo Nagô não é uma lenda.As provas estão nos arquivos criminais da cidade e constam no livro do autor e professor da Unimontes Alysson Luiz Freitas de Jesus.O livro se chama `No Sertão das Minas:escravidão, violência e liberdade 1830-1888`.

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