1º – MITO DA GESTÃO COMPETENTE
O “choque de marketing”, déficit “zero”, desonestidade política e intelectual, contabilidade “criativa” e 67 bilhões de reais de dívida!
O termo “choque de gestão” tornou-se o emblema para a difusão da imagem de Aécio Neves como alternativa às eleições presidenciais de 2010. Junto a ele veio também o “déficit zero”.
O primeiro remete a uma falsa ideia de que teria havido um “tranco gerencial” na administração que, por sua vez, teria produzido uma melhoria no funcionamento da estrutura de governo.
Blefe: Minas não se destaca por seus índices de resolubilidade das demandas políticas e sociais da população. Depois de centenas de milhões de Reais gastos com consultorias, oficinas, planejamentos estratégicos, criação (e desmanche) de cargos/estruturas gerenciais (via leis delegadas), além do marketing, não há um indicador que prove a melhoria do serviço público, em face do tal choque.
E ainda temos aí uma grande desonestidade intelectual: aquilo que é apresentado como invenção do governo tucano mineiro, na verdade foi previsto e proposto no governo Itamar Franco. Trata-se de algo pinçado de publicação do BDMG, ano de 2002, em parceria com outras instituições, na qual é mencionada a proposta de um choque de gestão, mas como parte integrante de uma série de medidas “para uma visão do novo desenvolvimento” (Minas Gerais do Século XXI). Aécio separou a expressão e deu a ela significado de palanque-eleitoral-virtual permanente.
Quanto ao “déficit zero”, o professor da UNICAMP, Fabrício de Oliveira, em publicação do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (2010), tem opinião clara: primeiro, a correção do desequilíbrio orçamentário nas contas do governo mineiro, vem de 2001, portanto, antes do governo Aécio; segundo, para atingir o tal “déficit zero” foi preciso somar operações de créditos (empréstimos), transferir encargos da dívida não para (ao seu principal), “sumir” com encargos de uma dívida com a CEMIG, receber aportes do governo federal etc. Oliveira chamou a isso de “contabilidade criativa”. Além do arrocho salarial, redução drástica dos gastos sociais e uma situação internacional favorável, que contribuíram para que as contas do governo ficassem magicamente no azul.
Isso sem falar em algo que foi escondido do povo, via mordaça e cumplicidade de setores da imprensa e órgãos de controle: uma megadívida de 67 bilhões de reais que agora Aécio diz ser impagável!
2º – MITO DO ESTADO CRESCENDO
O mito do estado crescendo “acima da média” brasileira: a triste realidade da economia mineira.
Minas Gerais cresce, nos últimos anos, primeiro embalado por uma conjuntura nacional e internacional favorável. Nacional, porque o governo Lula promoveu o crescimento e tratou Minas de forma republicana, ao contrário de FHC perante o governo Itamar Franco.
Segundo, enquanto houve crescimento da economia internacional, Minas também cresceu, com a valorização de commodities. Mas a crise de 2008 reitera a verdade: Minas é dependente “química” da exportação de produtos primários.
Tanto que o Brasil ainda cresceu mais do que Minas Gerais, ao contrário do que informa a máquina de propaganda dos tucanos.
Descontado, portanto, as variáveis exógenas (governo Lula e conjuntura internacional) a economia mineira não apresenta grandes mudanças em seus principais indicadores: participação geral e setorial na riqueza nacional, desigualdade regional, inserção internacional, política creditícia, desenvolvimento de ciência e tecnologia, diversificação do parque industrial etc, nada disso tem grandes modificações.
Finalmente, o fenômeno da desindustrialização, tocado por Aécio em alguns momentos, atinge Minas Gerais de forma cabal, dependente que é da exportação de ferro e produtos agrícolas, cujos preços oscilam internacionalmente.
A Fundação João Pinheiro (controlada pelo governo) e o IBGE informam os números que comprovam esse balanço. De janeiro de 2003 a março de 2010, o crescimento médio anual do PIB em Minas foi de 3,3 enquanto no Brasil o índice foi de 3,5%.
3º – MITO DA UNANIMIDADE MINEIRA
O mito da “unanimidade mineira” em torno de Aécio: a soma de muitos medos.
Alguém menos avisado poderia imaginar que Aécio tornou-se, pela via da argumentação e do exemplo de gestor qualificado, uma unanimidade mineira.
Não é bem assim. Sempre houve oposição. Porém, o uso da máquina governamental produziu a pseudo-unanimidade que agora se desfaz.
São três os componentes que ajudaram a formar essa imagem:
a) uma gigantesca estrutura de cooptação e compra de adesão, com verba pública, de parte da imprensa;
b) cooptação ou neutralização de agentes públicos nas esferas do poder legislativo (ALMG), prefeitos, setores da justiça, nas instituições de pesquisa (públicas e privadas);
c) dura repressão aos movimentos sociais e sindicais, desrespeito às entidades e lideranças populares, constrangimento da oposição parlamentar, promoção de demissões e ameaças nas redações da mídia regional.
Esses três componentes eram disfarçados sob um argumento midiático que nunca teve, de fato, força aglutinativa: a suposta necessidade da volta de um mineiro à presidência da República. O consenso em torno dessa premissa sempre foi superficial. O que valeu de fato foi a constituição daquilo que chamamos “estado de exceção”, com instituições, setores empresariais, culturais e até mesmo intelectuais aderindo a algo que não apresentara nenhum projeto programático real.
4º – MITO DO LÍDER MODERNO
O mito do líder moderno, democrático, probo e dinâmico.
O último mito seria uma síntese dos anteriores, “fechando” em uma imagem de contemporaneidade. Tentaram, inclusive, apresentá-lo como líder na campanha Diretas Já, quando na verdade não passava, naquela época, de secretário particular do avô. Deputado federal eleito na sombra da comoção nacional (a morte de Tancredo Neves) depois de 16 anos na Câmara, ele deixou uma produção parlamentar pífia. Mesmo tendo sido presidente daquela Casa. Governador de Minas, ele deixou o gerenciamento da máquina administravia a cargo de seu vice, a articulação com o legislativo e prefeitos com um outro auxiliar, e a promoção de sua imagem com sua irmã. Sempre se engajou e perdeu eleições importantes em cidades-pólo no estado (em 2004 e 2008).
Sua própria votação para o senado revela que a suposta empolgação dos mineiros e sua “unanimidade” foi mero produto de marketing.
De um total de 14,5 milhões de eleitores, 7,5 milhões escolhem Aécio, que foi beneficiado pelo voto duplo, tendo um ex-senador, ex-presidente e ex-governador (Itamar Franco) como companheiro de chapa e nenhum adversário de peso. Em termos absolutos, ele teve menos votos que o cantor Netinho (PCdoB-SP). Nas comparações absolutas e proporcionais com vários estados, sua votação não tem nada de extraordinária.
E agora, com o escândalo da rádio Arco-Íris, que é o fio da meada de fortes suspeitas de ocultação de patrimônio, sonegação fiscal e crime eleitoral, desvenda-se o mito: é um político conservador, que surfa em ondas artificiais, desconsidera os partidos políticos (incluindo o seu), trai aliados, faz acordos de bastidores com opositores nacionais, usa a máquina pública para autopromoção e para o cerceamento do contraditório e do debate. Esse é Aécio Neves, despido de sua máquina de posicionamento de imagem.
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